Jun 01, 2022 | Comentários
Quando passam a planejar, monitorar e avaliar o próprio aprendizado, os estudantes desenvolvem autorregulação e podem traçar objetivos mais audaciosos
Na minha carreira como professora da educação básica, percebi que os estudantes frequentemente recebem orientação sobre o que estudar, mas raramente lhes ensinam o como estudar. Isso pode deixá-los paralisados e fazer com que fiquem ansiosos e desengajados também.
Minha vontade de fazer com que esses alunos pudessem desenvolver uma independência e maneira própria de se organizar, me levou a escrever o livro “The Independent Learner” (“O aluno independente”).
O termo metacognição se refere ao estudante tomando consciência de seu próprio processo de raciocínio. Um pensamento metacognitivo permite que ele se autorregule e direcione pensamentos, comportamentos e ações aos objetivos planejados.
Desde muito cedo, já na educação infantil, professores podem instruir seus estudantes a construir habilidades metacognitivas por meio de um processo de planejamento, monitoramento e avaliação do que aprenderam. Uma vez que alcançam o ensino fundamental, já estarão aptos a usar essas estratégias com mais independência e possibilidades de escolha.
Etapa de planejamento
Quando começam a trabalhar sem um plano, os alunos podem ficar confusos e cansados da tarefa com muita facilidade. Talvez eles desistam, fiquem distraídos, ou passem a ter um comportamento dispersivo. Separar um tempo para o planejamento ajuda estudantes com esses problemas. E planejar inclui prever tarefas, estipular objetivos, decidir qual será a abordagem a ser usada e criar conexões com aprendizados obtidos anteriormente. As estratégias a seguir ajudam os estudantes a se planejar.
Construção de conhecimento prévio
Os professores podem auxiliar os alunos a construir esse conhecimento prévio fazendo conexões entre o que há de novo a ser aprendido com assuntos que eles já conheçam. Isso pode acontecer por meio de uma chuva de ideias com os alunos respondendo a uma questão, assistindo a um vídeo ou pesquisando e discutindo os temas de estudo a partir de imagens ou objetos relacionados. Uma formação forte desse pano de fundo de aprendizagens auxilia alunos a tecer hipóteses de maneira mais assertiva e também a priorizar informações durante os exercícios.
Estabelecimento de objetivos
Fazer com que os estudantes criem metas e observem seu progresso está associado a 32% de melhoria no cumprimento de tais objetivos. Professores podem ajudar estudantes a estipular metas de curto prazo, relacionadas às habilidades que estão aprendendo no momento, e metas de longo prazo que dialogam diretamente com objetivos de vida e valores pessoais.
Planejamento do processo
Todos nós já tivemos a experiência de criar metas apenas para perder a motivação e fazer o que for possível para que elas virem realidade. É possível incentivar os estudantes a refletir sobre mudanças em seus hábitos e comportamentos que sejam necessárias para que alcancem seus objetivos. Eles podem criar um plano ou lista e usar isso para monitorar o progresso diário ou os pequenos passos em direção ao objetivo final.
Monitoria
Os estudantes que estão tendo dificuldades para fazer o monitoramento de sua aprendizagem geralmente não sabem quando pedir ajuda ou podem ser muito dependentes da equipe de professores para ter certeza de que os que estão fazendo está certo. Talvez lhes falte um senso de que são capazes ou acreditar que seus esforços afetam suas ações. Pode ser também que eles falhem em mudar a própria abordagem quando esta não funciona.
Quando um estudante está monitorando seu aprendizado, consegue perceber o nível de compreensão e entender se a estratégia que adotaram está funcionando ou não. As estratégias a seguir podem auxiliar os estudantes a monitorar seu processo de aprendizagem:
Conversas metacognitivas
Quando os estudantes estão aprendendo uma nova habilidade, o professor pode tentar verbalizar o que está pensando. Com isso, o pensamento pode ficar mais “visível”. Isso os ajuda a criar habilidades mais complexas de pensamento necessárias a determinadas áreas. Encorajar estudantes a usar debates para construir o pensamento ao invés de apenas participar mostrando suas ideias também é um ato que professores podem fazer.
Estratégias como criar duplas que pensam juntas ou explicar os passos de maneira visual a respeito do que estão pensando pode ajudar estudantes a compreender que existem muitas formas de se concluir determinadas tarefas ou resolver problemas.
Analisar, priorizar, sintetizar
Vários métodos podem ser apresentados aos estudantes para que listem informações ou isolem fatos específicos, vejam detalhes ou palavras-chave.
Avaliação
Se os estudantes não estão avaliando o próprio aprendizado, provavelmente também não estão compreendendo como usar estratégias dentro dos próprios contextos ou em situações futuras em que precisarão resolver problemas. Podem até suspeitar que algo está errado, mas não são capazes de dizer por que ou o que poderiam fazer diferente da próxima vez para evitar cometer os mesmos erros.
Para avaliar o próprio aprendizado, os estudantes devem identificar se a estratégia escolhida deu certo e o que devem mudar da próxima vez. Os pontos a seguir podem servir de apoio ao estudante na hora da auto avaliação:
Avaliar
Os testes deveriam ser feitos durante o processo de aprendizagem e não quando ele está completo. Os estudantes podem criar seus próprios modelos de teste ou questões ou os professores podem usar pré e pós testes nos quais possam identificar o que os alunos sabem, ajudá-los a priorizar informações mais relevantes e estimar o aprendizado durante os exercícios.
Oferecer retorno avaliativo
Na classe, os professores funcionam como mentores para os estudantes, dando a eles informações sobre seus objetivos e progresso. Os retornos avaliativos (feedbacks) mais bem-sucedidos são aqueles que não envergonham os estudantes ou focam em qualidades pessoais. Pelo contrário, respondem a essas perguntas:
Refletir e revisar
Depois de fazer uma avaliação, uma autoavaliação ou dar um feedback, os estudantes refletem se a estratégia que estão usando está tendo algum resultado. A partir disso decidem quais mudanças são necessárias. Eles também podem observar se precisam ou não de alguma ajuda extra.
Quando revisam o que aprenderam, os alunos enxergam o que não foi tão bem e que podem refazer. Eles devem ser capazes de explicar onde erraram ou o que não deu certo e então repensar a estratégia para corrigir os erros. Como pode perceber, isso faz com que o ciclo de metacognição retorne ao estágio de planejamento.
A única forma de fazer com que a aprendizagem seja de fato relevante para cada estudante é ensiná-los ferramentas e estratégias que os coloque em uma posição mais ativa em relação ao próprio processo de aprendizagem. Incorporar habilidades metacognitivas e de autonomia tem auxiliado meus estudantes a se tornarem mais independentes, engajados e capazes de trilhar seu próprio caminho.
*Publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização © Edutopia.org; George Lucas Educational Foundation
Fonte: Portal Porvir - Nina Perrish, para o Edutopia